Por amor ao esporte e proteção à terra, aldeias organizam 1ª Copa Indígena de Futebol
Competição batizada de Kwá Yepe Turusu Apisáwa reúne oito comunidades do sul da

Na língua Tupi, Kwá Yepe Turusu Apisáwa significa: “Esse é um grande jogo”. Foi este o nome escolhido para batizar a primeira Copa Índigena de Futebol, que vai acontecer entre os dias 30 de outubro e 15 de novembro no estado da Bahia. O torneio vai reunir oito times formados por jogadores das etnias Tupinambá, Pataxó e Pataxó Hã-Hã-Hãe que entrarão em campo para disputar o inédito título e ganhar, como prêmio, a oportunidade de jogar uma partida amistosa contra a equipe de futebol profissional do Bahia, um dos apoiadores do evento.
As equipes inscritas são o Água Vermelha, Aktxurá Eoató Coroa Vermelha, Barra Velense, Caramuru, Juventude da Aldeia Igualha, Mamão Juventude, Sagitárius e Serra do Padeiro. Todas oriundas de comunidades localizadas no sul e extremo sul do Estado.
A competição será disputada no esquema de mata-mata e em jogos únicos, se iniciando pelas quartas de final, nos dias 30 e 31 de outubro. Os quatro vencedores desta primeira fase avançam à semifinal, que vai ser jogada em 6 de novembro. A final, marcada para o dia 15, será sediada na Cidade Tricolor, centro de treinamento do Bahia. O ex-jogador Juninho Pernambucano e o jornalista Bob Fernandes serão os comentaristas da partida, e todos os jogos terão transmissão ao vivo pelo YouTube.
Para não expor os jogadores e torcedores aos longos deslocamentos e ao perigo de contaminação da covid-19, o convite ficou restrito somente aos oito times, que são nativos de aldeias próximas. Pela mesma razão, a maior parte dos jogos vai ter sede única, o estádio Silveirão, na cidade de São José da Vitória. Mesmo com todos os índios praticamente imunizados, o que prevaleceu foi a cautela por parte dos organizadores.
Um deles é Teite Tupinambá. Aos 43 anos, Teite estava escalado em uma posição fora dos gramados e jogaria para a equipe da organização do campeonato. Mas, faltando menos de uma semana para o início da Copa Kwá Yepe Turusu Apisáwa, ele receebu o convite para ser o atacante do Serra do Padeiro, time que carrega o nome da comunidade onde vive, localizada em uma região que abrange as cidades de Una, Buerarema, São José da Vitória e Ilhéus.
“Eu tenho 43 anos e nunca tive uma oportunidade de ser visto. Agora, nós vamos ter essa oportunidade”, diz otimista sobre a possibilidade de jovens indígenas serem observados por olheiros e terem a chance de construir uma carreira no futebol profissional. “Essa copa pode mostrar para o povo que tem muitos índios craques”, afirmou.
Uma das oito equipes do campeonato, o Serra do Padeiro é um time que já existia desde quando Teite era criança. Para ele, é difícil conseguir dizer com precisão há quanto tempo existem, mas garante que há mais de 30 anos. Porém, mesmo sendo longevo, estar em um torneio de longa duração é uma novidade para a história do time. “Antes, a gente tinha dificuldade para jogar por conta do deslocamento. Nós íamos a pé, andávamos 25, 30 quilômetros para jogar um torneio que durava um dia. A gente saía cedo, passava fome, mas nunca desistimos do esporte”, conta Teite.
Hoje, a situação já está mais confortável para os atletas tupinambás. Os moradores da comunidade possuem carro e moto, e a aldeia já acomoda o campo dos Craveiros, onde o time joga e se prepara para a Copa Indígena
Desde maio, quando o torneio começou a ser idealizado, o Serra do Padeiro tem treinado de três a quatro vezes por semana. O técnico é Agnaldo Pataxó, que gosta de armar a equipe de forma mais ofensiva. Quem conta esses detalhes à reportagem é o zagueiro do time, Airan Souza Lima. “Nós estamos com uma expectativa muito grande com a Copa, mas todos vão querer ganhar”, afirma ele.